Curso livre de "CINEMA EM MARINGÀ"

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Estudo Tiririca

por Raymundo de Lima


"Quem gosta de estudar não é admirado no Brasil" disse Guo Qiang Hai, 48, físico chinês que mora em São Carlos (SP) desde 1993, e hoje é professor da USP, em entrevista a Folha de S. Paulo (19/07/2010).
O professor Guo está preocupado com o futuro da filha, com uma brasileira, criada no ambiente cultural brasileiro “nada estimulante para os estudos”. Guo disse que adora o Brasil, teve facilidade de fazer amizades, mas se preocupa de reconhecer que, ao contrário da China, os brasileiros não valorizam quem gosta de estudar. Na China são frequentes os elogios dirigidos aos alunos esforçados, com boas notas: "nossa, como você é inteligente” ou “ele é um crânio”, comentam.
Esta entrevista com o prof. Guo me fez lembrar alerta de colegas de escola no interior de São Paulo: “se você estudar muito pode ficar bobo”. Fui rotulado de CDF (Crânio-De-Ferro); parecia que tinham pena de mim e não recebia elogios das meninas. Fui salvo por três colegas igualmente CDFs, evitando ser vítima de bullying. Felizmente meu velho pai se interessava pelos meus estudos, apesar de nunca ter frequentado uma escola; também lia jornal, era politizado, e conversava vários assuntos do mundo contemporâneo. Meus parentes de origem nordestina valorizavam tanto o trabalho na roça, e se pudessem não deixavam os filhos irem para a escola.
Esclarecimento: CDF não é “nerd”. Os CDFs são alunos muito dedicados aos estudos escolares, vivem para a escola, geralmente pouco brincam, tem poucos ou nenhum amigo, querem agradar os pais e procuram corresponder a expectativa dos professores. Por seu lado, o termo norte-americano ‘NERD’ (Northern Electricesearch andDevelopment), originalmente era o garoto que demonstrava muito interesse nas ciências da computação. O nerd não precisa ser o mais inteligente, nem o mais estudioso – tal com o CDF. A categoria nerd se ampliou para além do fascínio pela computação, e, hoje vale também vale para jovens fascinados pelas novas tecnologias, transitam bem nos ambientes virtuais da internet, está por dentro dos últimos lançamentos eletrônicos, sabe-tudo sobre as séries de ficção cientifica, etc. R
Voltando ao professor chinês, ele também se preocupa ao comparar a escola chinesa com a escola brasileira. "Na China a escola é em tempo integral, o aluno sempre volta com tarefas para fazer em casa. Se precisar, ele estuda no sábado". No Brasil muitos professores não passam tarefa pra casa, levando os alunos preencher o ócio com horas e horas diante do videogames e televisão. Lendo o artigo indicado, parece existir um perverso pacto entre alunos e pais contra fazer as lições escolares em casa, embora o SAEB constate que “98,4% dos alunos com rendimento inadequado não tem quem os acompanhe nas atividades escolares”, escreve Derly Maciel (O Diário, 01/10/2010).
No documentário “Escolas chinesas” os professores deste país costumam passar tarefas para serem feitas também nas férias. Assim os mais atrasados podem usar o tempo das férias também para sua recuperação e retornar as aulas no mesmo nível dos demais. As pesquisas comprovam que alunos de férias desaprendem boa parte do que estudaram durante o período anterior.
Por que na China existe uma cultura que valoriza o conhecimento e no Brasil, não? Por que os pais brasileiros vão se interessar sobre o rendimento escolar dos filhos só na época vestibular? Parece que meninas estudiosas são mais desvalorizadas do que os meninos. Vejam quantas mães hoje levam a filha para investir numa ilusória carreira de modelo. As filas do ônibus do Fantástico dizem por si como para elas a beleza é tudo. Nada contra se investir também na aparência, comprar roupas, cremes especiais, cirúrgias estéticas/silicone, mas sim, sou a favor do estudo. Os pais devem investir para emancipar o pensamento dos filhos. Imaginem se o ônibus do Fantástico passasse pelas cidades para selecionar tops intelectuais: quantas compareceriam? Como não ficar tiririca com a falta de interesse pelo estudo no Brasil.

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