Curso livre de "CINEMA EM MARINGÀ"

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Al Capone


A historia do cinema Norte Americano nos brindou com filmes maravilhosos, muitos deles históricos, embora, na tônica da história tenha havido algumas fantasias para levantar emoções.
Recentes histórias, do nosso mundo político, nos levaram para a lembrança da história de Chicago, pela apresentação do filme os intocáveis, filme de grandes atividades emocionais.
Com os intocáveis a história da máfia, a “Honorata Societá”, também chamada de “Cosa Nostra”, onde pontificavam imigrantes italianos, entre eles, a figura que se tornou famosa, chamada Al Capone, com ele o crime organizado.
Al Capone nasceu na Itália em 1889 e faleceu em 1947 nos EEUU
Consta que o serviço de segurança, juntamente com a polícia federal americana, sempre muito eficientes, somados ao judiciário, nunca conseguiram provar qualquer participação de Al Capone em todos os processos de criminalidade, havidos no comando da sua “Cosa Nostra”.
Inclusive consta que nunca ele portou uma arma. Apenas os seus auxiliares e seguidores portavam as armas, metralhadoras, as vezes transportadas em um saco de golfe ou sob as vestimentas.
Consta que as atividades de gangsters, comandadas por ele, faturava cerca de três e meio bilhões de dólares por ano, com capacidade de subornar policiais e juizes, despendendo cerca de duzentos e cinqüenta milhões de dólares anuais.
Nunca houve provas para puni-lo, pois nunca estava presente nos acontecimentos. Nem suspeitas materiais ficavam nos atos de ilegalidade, nas disputas de grupos ou domínio de territórios de tráfico de drogas, prostituição, clandestinidade de bebidas especialmente durante a promulgada lei seca que proibia o comércio de bebidas alcoólicas, também no oferecimento compulsório de proteção a comerciantes e empresários e pessoas de muitas posses.
Este tipo de proteção era uma forma de extorquir dinheiro sob pena de receberem a agressão da própria organização e, quando pagavam para não serem agredidos pelo próprio grupo, eram também defendidos contra a agressão de outros.
Al Capone, oficialmente, nunca sabia de nada e nunca aparecia qualquer comprovação das suas participações ou comandos.
Conseguia ser recebido nos altos círculos sociais, relacionava-se bem com as autoridades. Alem dos subornos concedia belos presentes na forma de gentileza de boa amizade.
Seus auxiliares, os que se deixavam ser suspeitos e sujeitos a investigações maiores, por fracasso em determinadas ações, eram imediatamente eliminados, eliminação que era comandada com ordens para outros subordinados, tal como fazia Stalin na Rússia, quando recebia no gabinete algum elemento pelo qual não nutria simpatia, à saída deste, chamava um outro auxiliar de confiança e apenas dava um sinal, sem nada dizer, para eliminar o visitante que acabara de sair.
A punição de Al Capone lhe veio por algum deslize na declaração do imposto federal. Não é necessário ser letrado para ser um chefe de máfia.
Nem ser culto ou erudito. Basta ter a capacidade de penetrar na psicologia dos auxiliares, conhecer a psicologia do medo, para impor a tirania.
Conhecer a gula de cada um para satisfazer suas exigências e, se aproveitando de todas estas fraquezas, saber dizer a cada um o que cada um gosta de ouvir, assim distribuir algumas benesses e dominar, mantendo o ar de nobreza e de protetor, se fazendo ausente e desconhecedor dos acontecimentos comprometedores.
A massa da população gosta de protetores, mesmo fantasiosos.
A classe média gosta de fantasias. A camarilha gosta de lucro fácil.
Há boas condições para a máfia manter o domínio entre nós.
O Brasil não precisa da “Lei Seca” igual a adotada pelos EE UU.
Diante de tanta complacência e indignidade, nossas leis já são secas para os poderosos. Fogosas para os opositores.
FAHED DAHERAcademia de Letras de Londrina. Centro de Letras do Paraná

Cinema brasileiro reflete a realidade melhor que a televisão



A frase foi dita por José Carlos Avellar, crítico e gestor público do cinema brasileiro que nesta quarta-feira (27) participou de uma mesa-redonda realizada na 55ª Semana Internacional de Cinema de Valladolid por ocasião da celebração do Dia do Brasil, país convidado nesta edição.
O debate teve como assunto central a análise da filmografia brasileira dos últimos dez anos que, como reconheceram as pessoas presentes, procura refletir a realidade do país de forma que o espectador possa se identificar.
Avellar explicou que, após um período complexo na produção cinematográfica do país no início da década de 1990, o cinema ganhou fôlego com produções regulares impulsionadas por novos diretores.
Esta nova geração de diretores teve como ponto de partida o movimento cinematográfico da década de 1960, chamado "Cinema Novo", um exemplo desenvolvido e transformado em novos filmes.
Na opinião do crítico brasileiro, dois fatores foram os motores da produção cinematográfica no Brasil: as novas tecnologias, já que produzir filmes se tornou mais barato (o verdadeiro problema está na distribuição) e o fato de que o Governo reduziu as diferenças econômicas, que fez crescer um público de classe média com "possibilidade de ir ao cinema".
Entre as pessoas que discursaram também esteve a produtora de cinema Iona de Macedo, que concordou que são necessárias mais distribuidoras locais no Brasil.
Iona lamentou que o cinema brasileiro não ultrapasse as fronteiras do país, mas reconheceu que "o talento não tem fronteiras" e o Brasil está encontrando seu público após muitos anos.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Hitckcock eTruffaut







Para quem não sabe não,eles são os direitos mais incríveis dos anos 60,70,ou na minha opinião de todos os tempos, o americano Hitckcock e o francês Truffaut. Mas essa é dica é mas para os cinéfilos, if Charlie Parker was a gunslinger, there’d be a whole lot of dead copycats (muita gente ainda não sabe) , em 25 arquivos de mp3 toda a conversa que o cineatras francês teve com o mestre do suspense Alfred Hitckcock, que deu origem ao livro Hitckcock/Truffaut: Entrevistas . É só baixar e ouvir. 

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Triangulum, de Gustavo Jahn e Melissa Dullius (Brasil/Alemanha/Egito, 2008)

Triangulum é o mais novo produto do casal gaúcho Gustavo Jahn e Melissa Dullius, radicados em Berlim, mas filmando no Cairo, um alienígena completo no panorama do nosso cinema (sobretudo por negar, com essa flutuação literal e metafórica, qualquer vínculo com o país – com qualquer país, na verdade). É um filme que existe no céu, de onde tirou seu nome, vindo de uma constelação, e que só assim, do alto, pode ser realmente aproveitado.


Um prólogo denominado “Um Golpe do Destino” abre o filme apresentando o trio de desgarrados que acompanharemos dali adiante. Um está ferido, o outro cego, e uma terceira tem algo nas mãos, uma fotografia dela mesma usando um xador muçulmano. Eles se encontram numa rua movimentada de algum lugar da Europa quando recebem a visita angelical de uma jovem que é a própria encarnação da idéia de destino, e que os levará – num passe de mágica (mais conhecido como trucagem) – à rua movimentada agora de uma grande cidade oriental. O tráfego pelos espaços é apenas metade do mistério: letreiros azuis anunciam que eles também foram enviados ao futuro. 



A materialidade de Triangulum nos faz crer nesse mistério. O sobrevôo de tapete por Cairo é criado a partir de um contra-plongée simples, montado com planos estáticos da cidade na direção contrária (subjetiva dos personagens sobre a cidade que vêem do alto), e a sensação de flanar se dá por pura sugestão – nem mesmo os cabelos dos protagonistas precisam balançar para que o falseamento se dê de maneira mais integral. Trata-se de um falseamento claro e é exatamente nisso que o filme quer que acreditemos. O registro em 16mm reproduz nas imagens novas a mesma sensação que se tem diante de uma velha fita qualquer, como se a trajetória destes três fosse tomada de alguma sala de arquivo, reunida e montada com sentido novo. Até um triângulo reluzente é colocado flutuando acima da terra, como se a emprestar energia aos três amigos para que sigam adiante e abracem o mistério, mas eles mesmos parecem atados demais a essa terra, ao nível do chão, para poderem acreditar que é o vôo no tapete que os define.
Triangulum existe para confirmar uma premissa dos primórdios da arte: o cinema existe essencialmente como território privilegiado para o cumprimento de tarefas. Elas são mais visíveis no interior da trama, mas essa agenda é tão mais potente quanto mais exterior a ela for. Bilhetes recebidos de estranhos na rua dão as direções para que cada um dos amigos cumpra a sua jornada pessoal de descoberta e atordoamento, mas dificilmente o cumprimento delas levará a algum tipo de redenção. Se há um Godard a que o filme se liga intelectualmente é menos o das aparências tiradas do uso dos letreiros coloridos e jump-cuts e mais aquele do Grupo Dziga Vertov – e, por uma coincidência geográfica, o de Aqui e Acolá. As questões levantadas pelo francês três décadas antes não surgem renovadas, pelo contrário. Elipses e truques de montagem fazem do filme um exemplar involuntário das comédias do cinema mudo e de um filme da fase maoísta de Godard ao mesmo tempo: há espaço para o thriller existencial e para um mickeymousing na banda sonora. 


Há um doce anacronismo na tentativa deTriangulum em ser pertinente à distância, em admitir a experiência do cinema como um evento de segunda mão, que acontece quando a imagem já está segura demais em seu caráter de objeto do passado para se sujeitar às demandas de uma juventude presente que precisa resolver, cumprir, chegar em algum lugar outro – daí talvez a tentativa inocente de colocá-los num futuro onde, supostamente, se encontraria esse objetivo a alcançar. Um jovem palestino recita um poema sobre reunir-se à pátria-mãe ao se misturar na lama de um acampamento, outra moça insiste nas possibilidades revolucionárias que uma vitória do povo iraquiano na guerra contra a América traria a todos os povos subjugados, mas o filme observa esses discursos com a mesma melancolia de Godard e Anne-Marie Miéville na sala de montagem de uma televisão francesa precisando dar algum sentido a um punhado de recortes de uma realidade que não os pertence, mas de cujas imagens agora eles são pais e responsáveis.


Quando o sujeito ferido lê seu bilhete dizendo que “Meca é onde o coração está”, Triangulum parece procurar, mais que o propósito ou o efeito das ações, simplesmente o local onde elas se darão de maneira efetiva. E situar o coração lá onde ele nunca será alcançado (pára-se no meio do caminho, numa tenda no deserto onde o ferimento sangra terrivelmente) é, de uma certa maneira, reconhecer que o lugar da imagem de fato é entre o aqui e o acolá, entre a produção e a recepção, mas que esse “entre” é ainda campo de pura especulação. O conhecimento desse “entre” talvez tenha se perdido junto com os livros da Biblioteca de Alexandria para onde o sujeito cego vai, trazendo de lá um maço de papéis que respondem certamente a algo, mas não às suas dúvidas; ou no simples contato pelo choque com as mulheres que usam o mesmo pano mulçumano na cabeça e que recebem um cartão com os rostos de várias outras mulheres com tarjas pretas nos olhos. É a História, a resistência à tradição promovida por uma modernidade que parece mal ter consciência de sua fragilidade, de seu atraso, de ser irremediavelmente retardatária. 
O que não significa que o coração não deva continuar a ser procurado, seja lá onde estiver. Aos três viajantes do tempo resta reiniciar sua busca uma vez que a primeira tarefa parece ter falhado – “recomeçar, mil vezes recomeçar”, é o lema repetido ao longo do filme. Mas dessa vez assombrados por uma imagem da infância, da infância desse cinema vigoroso e aterrador de Gustavo Jahn e Melissa Dullius, como o viajante do tempo de La Jetée. Essa imagem é a de sua própria morte, a morte do voluntarismo, do desejo de movimento posto em prática por terra, mar, cor e preto e branco, do discurso daqueles que partiram e que só podem falar da resistência à distância (numa sala de montagem ou num café no Cairo, do Brasil a partir de Berlim), morte por fim de um sentimento pleno de juventude inconformada não por ser política, mas simplesmente por ser jovem. O que Triangulum garante a seus personagens – vividos pelos próprios diretores e pelo fotógrafo do filme, Michel Balagué – é que há agora o tapete voador, talvez o único espaço onde ver de longe significa ver melhor, e que quando toda essa jornada terminar, provavelmente aquele possa ser o transportador mágico para esse “entre” inatingível. Seja como for, Gustavo e Melissa agora já são, eles mesmos, pais e responsáveis por imagens de torpor e de enigma “aqui” em Triangulum. E “acolá”, onde estamos nós, talvez seja possível conseguir uma carona na próxima viagem do tapete. Que venha a vida adulta então.
Março de 2010
editoria@revistacinetica.com.br






Tropa de Elite 2, de José Padilha (Brasil, 2010)

por Fernando Veríssimo


Um filme brasileiro
Dizer que a continuação de Tropa de Elite é um dos maiores fenômenos que o cinema brasileiro já produziu em sua história não é um exagero. Basta recorrer aos números, que serão saudados por toda a imprensa, especializada ou não, nas próximas semanas, para se constatar isso - e ganha um doce quem encontrar uma reportagem que não utilize a palavra "recorde" em algum lugar. Mas, sem querer desmerecer os resultados do filme no mercado, a força desse novo episódio da cruzada do capitão Nascimento contra o crime organizado ultrapassa e muito suas conquistas econômicas. O fenômeno é, antes de tudo, cultural. Ora, de todos os fatores que contribuem para o sucesso do filme de José Padilha - e eles são muitos -, há um que paira sobre os outros, tão acima que quase passa sem ser notado. Em determinado momento da exibição, uma cartela surge na tela com os dizeres: "dias de hoje", ou algo para esse efeito. E a partir daí, acompanhamos o desenrolar da trama com a sensação de que estamos assistindo a uma cobertura de eventos em tempo real, no calor dos acontecimentos.

Não é uma operação sutil - nada é sutil no universo de 
Tropa de Elite -, mas o efeito que a entrada dessa cartela provoca na percepção do público, talvez de forma quase subliminar, é marcante. É antes de tudo a realização de uma promessa, um pacto que o candidato ablockbuster firma com o espectador no ato da venda do ingresso e que tão raramente é cumprido - a era dos blockbusters é marcada por promessas falsas e pela força do marketing, antes de tudo, e encontros felizes como o de Tropa 2 com o público são raríssimos. No caso, o que se espera de Tropa de Elite 2 é uma narrativa que nos faça mergulhar na realidade por trás das manchetes de jornal, com o poder de retórica e sedução que só o cinema tem. Não as manchetes do ano passado, da década passada, mas as manchetes dos "dias de hoje". E essa expectativa o filme cumpre com dignidade, seguindo a fórmula do primeiro e ampliando seu escopo para encompassar o tema do qual todos adoram falar mal no Brasil, especialmente em período eleitoral: a política. O choque de atualidade que Tropa 2 propõe não pode ser menosprezado, assim como não se deve minimizar os possíveis e prováveis efeitos sobre a produção nacional como um todo nos anos vindouros. Até mesmo porque o cinema brasileiro, essa instituição, não pode se dar ao luxo de aplicar seu histórico duplipensar todas as vezes que se depara com um filme como esse, tratando-lhe como exceção e celebrando suas conquistas como se elas pertencessem ao conjunto da produção. Há lições a se extrair das sessões lotadas e dos aplausos que encerram todas elas, e não seria sensato ignorar tais lições - especialmente a mais simples e essencial: filmar os "dias de hoje" é um excelente negócio.

Mas é claro que tais lições nunca devem ser tomadas ao pé da letra, e é preciso compreender que o fenômeno Tropa de Eliteultrapassa o sentido de urgência que ilumina os dois filmes. Pois o elemento central, a conquista principal dos filmes é a combinação feliz de talentos que gerou a figura do capitão (agora tenente-coronel e subsecretário de inteligência) Beto Nascimento, um personagem maior até que os próprios filmes. Imbuído de um senso de justiça inabalável e demonstrando nessa continuação uma capacidade de adaptação invejável, Nascimento encarna o herói de uma verdadeira legião de brasileiros indignados com a violência dos morros, a corrupção das forças policiais e os desvios da classe política. Mas Nascimento é muito mais que um mero depositário de moralidade (muitas vezes duvidosa): ele é também um sujeito que carrega consigo alguns dos mais intrigantes paradoxos brasileiros dos "dias de hoje" e sempre.

Ao contrário do primeiro filme, que ficava em cima do muro em relação aos métodos e ideologias do protagonista e extraía dessa insegurança sua energia primal e seu discurso confuso, a adesão ao ponto de vista de Nascimento é absoluta em 
Tropa de Elite 2. As questões são totalmente internalizadas pelo herói, que trocou a farda por um terno, de modo que o problema da segurança pública no Rio de Janeiro se revela um melodrama burguês nesse momento delicado de Nascimento, com direito a triângulo amoroso, disputas familiares e criança convalescendo em hospital. Até uma inesperada aliança estratégica firmada com antigos opositores (a antiga contenda se revela uma mera questão de método, mais que tudo), aliança esta que leva ao desmantelamento de uma organização criminosa que estende seus tentáculos até o alto escalão do poder público, surge como uma solução caseira para um problema doméstico.


A interpretação de Wagner Moura, quase sempre irrepreensível, por vezes denuncia o peso dessa escolha ao recorrer a um estoque de expressões e sentimentos que ocasionalmente atingem uma nota em falso - como, por exemplo, na cena em que Nascimento encontra Matias (André Ramiro) na prisão. Mas esses pequenos deslizes não tiram o brilho da criação do ator, que carrega boa parte do elenco nas costas e só é
ofuscado pela caracterização excepcional de Milhem Cortaz - que, como alívio cômico, engole o comediante André Mattos, além de ficar com os melhores bordões da continuação. E afinal, mais ou menos sensível, Moura faz crer, sempre que está em cena, que a luta de Nascimento contra o "sistema" vai além da mais pura ingenuidade - um traço que seria imperdoável para alguém em sua posição. No final do filme, é sua voz em 
off que promete um acerto de contas como nunca antes houve na história desse país - e, ouvindo o cara, não sou eu quem vai duvidar disso.

Como Nascimento é o termômetro dos dois filmes, seu caráter mais introspectivo em 
Tropa de Elite 2 deixa muito clara a opção da sequência por uma narrativa que privilegia o raciocínio em detrimento da força bruta. Mal comparando, Tropa 2 está para o primeiro filme como O Cavaleiro das Trevas está para Batman Begins: nas sagas desses dois heróis tumultuados, anecessidade de compreender o mundo à sua volta prevalece sobre o desejo de agir por impulso ou condicionamento.É a partir do entendimento de que não é um fuzil ou um maluco mascarado a mais que vão fazer a diferença nesse universo de muitas dúvidas e poucas certezas que nossos heróis traçam suas novas estratégias, reveem suas posições, qualificam suas agendas. E se para o homem-morcego a perspectiva de viver na ilegalidade é o preço a se pagar para ser "o herói que Gotham merece", o sobrevoo da câmera de Padilha sobre Brasília não deixa dúvidas sobre o futuro da guerra de Nascimento - um futuro talvez ainda mais ingrato que o do cavaleiro das trevas, pelo menos no que se refere a índices de popularidade.


É admirável o modo corajoso e arriscado com que a transição do primeiro para o segundo Tropa de Elite implica o abandono de fórmulas que mal tiveram a chance de se cristalizar. Com Nosso Lar, por exemplo, o cinema brasileiro de gênero (o espírita, no caso) pareceu saltar vinte anos em dois - levando em conta que a última empreitada no gênero, Bezerra de Menezes, foi um fenômeno muito mais localizado (e excetuando Chico Xavier, que é um produto de grife). Com Tropa 2, a situação se repete: é como se toda uma janela de oportunidades de ficções policiais se fechasse para abrir espaço a um novo conceito. Não que o elemento de exploitation, central para o sucesso do primeiro filme, não esteja presente: temos um formidável massacre em Bangu 1, magnificamente filmado; caveirões entrando na favela e caveirinhas de microondas; tortura com saco plástico. Mas o principal fator de entretenimento da continuação é a descrição detalhada, ainda que excessivamente caricatural e esquemática, dos processos de formação de grupos que disputam o poder e da guerra pela sua manutenção.

Ainda assim, a impressão que se tem é que os realizadores de 
Tropa 2 tinham plena consciência de que não jogavam para perder - e vale voltar rapidamente aos números, que definitivamente hão de comprovar. Ao acionar um esquema de distribuição independente inédito para um filme desse porte, e ao arriscar um programa de lançamento comercial mais radical que o de muitos blockbusters norte-americanos, Tropa 2 parece fazer do risco e da audácia elementos centrais de uma estratégia a se perseguir. Mas ao jogar "pra galera", combinando denúncia requentada, exploração crassa da violência urbana e faro fino para o que comove e diverte as massas, o filme reverte sua posição, revelando um calculismo de mercado que impede um voo artístico pleno e satisfatório. Não que isso incomode a maioria, muito pelo contrário. Fato é que, em meio a essas contradições (e há muitas e muitas outras que o filme incorpora e traz à tona), Tropa 2 promove um espetáculo como nenhum outro, notável em sua perspicácia e capacidade de realização. É um filme que nasce incontornável e sobre o qual o cinema brasileiro há de se debruçar por muito tempo. E se, no fim, um herói mascarado se revelou o herói que Gotham merece e não o que ela deseja, com Tropa 2 a questão é mais simples: ele é o filme que o Brasil quer neste momento. Se o merece ou não, é outra história.

Outubro de 2010

editoria@revistacinetica.com.br



Estudo Tiririca

por Raymundo de Lima


"Quem gosta de estudar não é admirado no Brasil" disse Guo Qiang Hai, 48, físico chinês que mora em São Carlos (SP) desde 1993, e hoje é professor da USP, em entrevista a Folha de S. Paulo (19/07/2010).
O professor Guo está preocupado com o futuro da filha, com uma brasileira, criada no ambiente cultural brasileiro “nada estimulante para os estudos”. Guo disse que adora o Brasil, teve facilidade de fazer amizades, mas se preocupa de reconhecer que, ao contrário da China, os brasileiros não valorizam quem gosta de estudar. Na China são frequentes os elogios dirigidos aos alunos esforçados, com boas notas: "nossa, como você é inteligente” ou “ele é um crânio”, comentam.
Esta entrevista com o prof. Guo me fez lembrar alerta de colegas de escola no interior de São Paulo: “se você estudar muito pode ficar bobo”. Fui rotulado de CDF (Crânio-De-Ferro); parecia que tinham pena de mim e não recebia elogios das meninas. Fui salvo por três colegas igualmente CDFs, evitando ser vítima de bullying. Felizmente meu velho pai se interessava pelos meus estudos, apesar de nunca ter frequentado uma escola; também lia jornal, era politizado, e conversava vários assuntos do mundo contemporâneo. Meus parentes de origem nordestina valorizavam tanto o trabalho na roça, e se pudessem não deixavam os filhos irem para a escola.
Esclarecimento: CDF não é “nerd”. Os CDFs são alunos muito dedicados aos estudos escolares, vivem para a escola, geralmente pouco brincam, tem poucos ou nenhum amigo, querem agradar os pais e procuram corresponder a expectativa dos professores. Por seu lado, o termo norte-americano ‘NERD’ (Northern Electricesearch andDevelopment), originalmente era o garoto que demonstrava muito interesse nas ciências da computação. O nerd não precisa ser o mais inteligente, nem o mais estudioso – tal com o CDF. A categoria nerd se ampliou para além do fascínio pela computação, e, hoje vale também vale para jovens fascinados pelas novas tecnologias, transitam bem nos ambientes virtuais da internet, está por dentro dos últimos lançamentos eletrônicos, sabe-tudo sobre as séries de ficção cientifica, etc. R
Voltando ao professor chinês, ele também se preocupa ao comparar a escola chinesa com a escola brasileira. "Na China a escola é em tempo integral, o aluno sempre volta com tarefas para fazer em casa. Se precisar, ele estuda no sábado". No Brasil muitos professores não passam tarefa pra casa, levando os alunos preencher o ócio com horas e horas diante do videogames e televisão. Lendo o artigo indicado, parece existir um perverso pacto entre alunos e pais contra fazer as lições escolares em casa, embora o SAEB constate que “98,4% dos alunos com rendimento inadequado não tem quem os acompanhe nas atividades escolares”, escreve Derly Maciel (O Diário, 01/10/2010).
No documentário “Escolas chinesas” os professores deste país costumam passar tarefas para serem feitas também nas férias. Assim os mais atrasados podem usar o tempo das férias também para sua recuperação e retornar as aulas no mesmo nível dos demais. As pesquisas comprovam que alunos de férias desaprendem boa parte do que estudaram durante o período anterior.
Por que na China existe uma cultura que valoriza o conhecimento e no Brasil, não? Por que os pais brasileiros vão se interessar sobre o rendimento escolar dos filhos só na época vestibular? Parece que meninas estudiosas são mais desvalorizadas do que os meninos. Vejam quantas mães hoje levam a filha para investir numa ilusória carreira de modelo. As filas do ônibus do Fantástico dizem por si como para elas a beleza é tudo. Nada contra se investir também na aparência, comprar roupas, cremes especiais, cirúrgias estéticas/silicone, mas sim, sou a favor do estudo. Os pais devem investir para emancipar o pensamento dos filhos. Imaginem se o ônibus do Fantástico passasse pelas cidades para selecionar tops intelectuais: quantas compareceriam? Como não ficar tiririca com a falta de interesse pelo estudo no Brasil.